Not In Rivers, But In Drops



Os impérios do meu desejo
Resumem-se à distância
Que vai da minha dor
Ao teu beijo.
Um narciso, caído
Nos esquadros glaciais
Do teu coração:
Quebram-se cristais.
O teu corpo traduz todo o pecado
A que eu estou submetido
Em silêncio.
Pelo ódio ardente que corre
Dentro do mim,
À mentira que transpassa as palavras
Que me sussurras
Em sonhos.

O nascer do sol nos teus olhos
Prende a minha vontade
De ser livre.


26 Agosto, 2008

He Painted Tears Across The Skyline


Por te amar eu desistia
Do chão.
Se ao menos quando caisse
Me pudesse agarrar a ti.
A insatisfação
Da pele é a principal
Culpada
Das minhas lágrimas
Ou quem sabe
Da ferrugem das correntes
Que me
Prendem.
.O inverno ainda
Não chegou
E já penso em amanhã:
Quero os teus
Braços, tronco, mãos, cabelos, pernas, corpo
Para me aquecer
No frio d'uma fogueira.


Gritar em plenos
Pulmões-vazios
Ao mar, que
Mostra os nossos olhos
Toda a
Melodia dos teus lábios.
E que ele
Morra de inveja.

Eu sei que não
Te tenho.
Restam-me as palavras
Dilaceradas
Do passado
E que as rosas acreditem
Que jamais deixei
De te amar.

22 Agosto, 2008

Mar


A textura dos lábios priva-me de
Te tocar, pele em pele, desejo
Contra desejo.
Rasgado, caído, dilacerado
Por ti,
Que és a faca
De dois gumes que me corta
O peito vazio.
Lágrimas de distância flutuam
No vento, até
Chegarem ao teu corpo, queimarem
A tua carne, alimentarem-se
Do teu sorriso e
Existirem no
Nós que não há.
Quando sei que
Não posso ouvir a tua
Voz ou beber
Do mar, se deambulo
Pelos rios secos. Porque
Somos os beijos
De sangue
E os violinos
Sem som
Do
Nosso
Amor
Morto.


12 Agosto, 2008

Assim


Como podia eu esquecer
As palavras tatuadas
No fundo do ser?
Somos aquilo que existe,
E não fazemos parte
D i s t o;
Afinal dou-me demais
E enterlaço-me
No desespero
De não te sentir.
Porque nós sabemos que
Não podemos abraçar
Quem tem medo de
Ser tocado,
Pelo mesmo caminho aprendemos
Que o pior amor
É aquele que se torna
Um hábito.

17 Agosto, 2008

Essência


Quando quiseres podes-me arrancar
Do teu corpo melindroso
Com uma harmonia decrescente.
E quem sabe beijar as chamas
Frias dos cabelos.
Talvez até componhas ordenadamente
Fios de sangue sobre
O meu rosto
E rasgues
Violinos de cordas partidas,
Enquanto devoras
O meu coração,
Tal carnívoro esfomeado...
Até que serei
Um cadáver no mar
Com sal, sangue e veneno
Na boca,
Disperso na substância
Que me queima
As veias,
Insaciado, corrupto...
Como as tuas mãos,
Ávidas de lágrimas...


13 agosto, 2008

Silêncio

As formas vegetais do teu sorrir foram plantadas nos vasos das minhas veias.
Olhar para trás, pensar, contar, [esquece o pensar], seguir em frente, beijar, [voltar para trás], sorrir.


És a medida errada entre o amor e a dor. Já te vi através dos vidros desfocados de pano, cetim, seda, cobre, aço, ferro, mercúrio, água, fogo...sonhos. Os teus olhos são o que vai do pecar ao errar, do seguir ao partir, do matar ao matar-me.
Tens os traços apagados de uma escultura, os desejos amarelados do passado, e respirar-te o corpo não é nada mais do que sentir as unhas na pele, e da pele à carne, aos músculos, às veias, ao interior do abstracto minimalismo de chorar. Noções de espaço, toque, trocas, matéria, física, corpos, átomos, iões, catiões, carícias, beijos, feridas que vão abrindo sem doer. O meu caminho é o do chão, alcatrão, terra batida, tapetes vermelhos rasgados velhos, de te ver beber das palavras que entornas.

[Novo ponto importante] – Procurar objectos, coisas, corações, memórias, tempos, onde não estejas presente.
Voltar-me para os amores em que te impregnaste porque o fizeste sólido, inquebrável, irreversível, trivial, transparente. Eu escrevia, tu lias, e estar sentado, em pé, falar, olhar, ser, estar, ouvir, vem contigo, venho contigo, viciado na esperança alimentada e gasta.

[Voltando ao assunto] – A dor ficou sem as lágrimas, as palavras, tudo-o-que-eu-apaguei-para-te-tentar-esquecer, até perceber que o esquecimento abre um buraco que é teu, e te tem, e te mostra. [voltar para trás] A dor veio, sem lágrimas, as palavras, tudo-o-que-eu-apaguei-e-procurei-em-ti-para-te-lembrar-pelo-esquecimento, até perceber que...encontrei paz.

[Sorrir] – Paz.

[Chorar] – A paz não é felicidade. A paz é ter-te dentro de mim e não te remexer/tocar/olhar. É lembrar-te em silêncio, é sentir dor no sorrir, abraçar e não sentir. Paz de não gritar, correr, ser. Paz de não viver. Essa paz é a calma que o teu sorriso já não me traz, a violência doce com que me eras, a insanidade da necessidade de te ser, tocar, ouvir.
A paz é não te ter e a certeza que nunca te terei.

5 agosto, 2008

Física


quero-te lamber as cores do arco-íris,
rebolar pelos vales dos teus braços
nadar nos lagos dos teus olhos
beber da água da tua fonte,
e saltar os prados do teu ventre.
gritar "saudade" no horizonte,
sentir-te em mim em...calmamente,
trincar-te as rosas dos lábios
dançar no sol do teu sorriso...
olhar para a costa do teu mar...
e se nada disso me for concedido,
eu só quero morrer no teu coração!
para amar.

2 agosto, 2008